
“(...) esses homens que vêem suas vontades cederem como um papel sendo rasgado”
(Castor Del Aguila)
Em Ratos e homens, o escritor norte-americano John Steinbeck – Prêmio Nobel de Literatura em 1962 - retrata a profunda desigualdade social da América rural dos anos 30. Para alguns homens, uma América de oportunidades; mas para outros, não há alternativa senão arrastar-se como ratos e sujeitar-se a condições ultrajantes bem próximas do trabalho escravo. Nesse cenário se movem os ratos-homens George e Lennie. Personagens contrastantes numa estreita relação que lhes serve de refúgio contra a solidão que os ameaça constantemente. E é na interação entre os dois eixos estabelecidos pelos protagonistas que se move toda a narrativa. Há um aspecto duro e realista, característico da obra de Steinbeck – como em As vinhas da ira, por exemplo –, resultado provável de suas próprias experiências e de seu aguçado sentido de observação; mas há também o sonho, a nobreza de que se revestem alguns de seus personagens diante de situações extremas. Lennie é enorme, forte, porém com idade mental de uma criança, o que não lhe permite avaliar as situações de forma adequada, e nem mesmo ter uma noção de sua própria força que lhe permita controlá-la. Isso faz com que viva se envolvendo em problemas. Nessas ocasiões, o astuto companheiro George, embora pequeno, é quem desempenha a função de seu guardião. Ainda que George viva reclamando de Lennie e dizendo que seria melhor sem ele, é uma relação em que ambos se sustentam e se protegem. Lennie é a criança, o sonho e a força física; George o adulto, a razão e a inteligência. Os dois estão tão ligados, que uma separação representa perder um pedaço de si mesmo e reduzir-se à solidão. O final da narrativa é impactante e, apesar de drástico, de uma piedade e de uma coragem comoventes.
(Of mice and men, 1937.)
Ratos e homens. Tradução de Ana Ban. Porto Alegre: L&PM, 2005. (145 páginas - pocket)