“Tudo ocorrera de uma maneira muito descuidada e confusa. Eles eram gente descuidada (...): destruíam coisas e pessoas e, depois, se refugiavam em seu dinheiro ou em sua indiferença, ou no que quer que fosse que os mantinha unidos, e deixavam que os outros resolvessem as trapalhadas que haviam feito...” (p.154)
Gatsby é um sujeito de origem pobre que enriquece através do tráfico de bebidas durante a Lei Seca nos Estados Unidos dos anos 20. Sua busca pela ascensão social tem o propósito de recuperar um amor perdido no passado. Assim poderia ser resumido o enredo do livro, o que talvez levasse a crer que se trata apenas de um romântico e pouco significativo melodrama. Entretanto, a obra tem sido apontada como um dos melhores romances em língua inglesa do século 20: “numa pesquisa elaborada em 1998, pela tradicional coleção de livros Modern Library, (...) 'O grande Gatsby', publicado em 1925, aparece em segundo lugar, atrás apenas do clássico 'Ulisses', do irlandês James Joyce” (Nuha, 2006).
Há outros aspectos, além da história em si, que podem justificar esse reconhecimento (que veio apenas depois da morte do autor, pois, em vida, o livro não vendeu muitas cópias). Um deles é a forma como a história é narrada, filtrada pela subjetividade do personagem-narrador Nick, marcada por metáforas e simbolismos. Outro é a mescla - e, em alguns aspectos, o embate - entre o romântico e o moderno, entre a tradição e a experimentação. Além disso, há o modo como o autor expõe a superficialidade e o vazio das existências da chamada “geração perdida” (o próprio Fitzgerald morreu aos 44 anos, quando, já debilitado pelos efeitos da bebida, sofreu um ataque cardíaco). E, ainda, o paralelo que se pode traçar entre a trajetória de Gatsby e a própria história, passada e atual, dos Estados Unidos.
Algumas críticas apontam a impressão de que “falta” algo, principalmente na constituição do personagem central. O próprio autor chegou a afirmar que o personagem era “turvo e fragmentário”: “Nunca em tempo algum eu próprio consegui vê-lo, a Gatsby, o personagem, claramente – pois ele começou como um homem que eu conhecia e depois transformou-se em mim mesmo – e a amálgama nunca foi completa em minha mente” (Costa, 1978). Por outro lado, outros apontam que isso colabora para criar uma aura mítica em torno do personagem.
De qualquer modo, é uma leitura interessante, sobretudo para refletir sobre a frivolidade, a irresponsabilidade e o niilismo que toma conta de uma sociedade pautada por valores essencialmente materiais. E para nos perguntarmos aonde isso pode nos conduzir.
(The great Gatsby, 1925.)
O grande Gatsby. Tradução de Brenno Silveira. São Paulo: Clube do Livro, 1988. (156 páginas)
O grande Gatsby. Tradução de Brenno Silveira. São Paulo: Clube do Livro, 1988. (156 páginas)
Leia também:
COSTA, Luiz Angélico da. O grande Gatsby e o sonho americano. Universitas. Salvador (19 – especial): 61-73, 1978. [acesso em 2009 Set 29]. Disponível em:http://www.portalseer.ufba.br/index.php/universitas/article/viewFile/1227/820NUHA, Danilo. Grande Gatsby. Recanto das Letras, 11/08/2006. [acesso em 2009 Set 29]. Disponível em:http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdelivros/213827